Aplicar a equanimidade
- Jorge Musumeci
- 4 de mar. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de abr. de 2019
“Proponho parar um momento para refletir,
já que não conhecemos uma coisa
só pelo fato de padecer ela em nossa carne,
mas quando chegamos a entender
de onde ela nasce.”
Antonio Escohotado

No trabalho de autodescobrimento da própria sombra é fundamental chegar na raiz das nossas dores e incomodidade, não conformarmos só com aquilo que nos “oferece” a nossa perceção, se não chegar na causa mesmo daquilo que sentimos na nossa carne. Não existe efeito sem causa. Já está mais que claro isso né? Se não existe efeito sem causa, também não existe “eu” e “o outro”. Convido vocês a refletir sobre estas palavras do poeta hindu Tukaram:
“A única razão pela que você fabricou esse drama e os seus atores, é porque você adora o teatro. Pelo contrario, há muito teria suspeitado que o tigre e a vaca são marionetes de madeira. A obra em total tem um sentido só: que nada é divisível. Uma luz em muitas chamas. Tem mais boas noticias, diz Tuka, o espelho está vazio.”
É preciso aplicar a equanimidade a todas as coisas que se percebem, pelo contrario sempre seremos dominados pela nossa identificação com elas e não teremos uma visão clara. Esse processo seria comparável ao perdão que tanto faz ênfase o livro Um Curso em milagres: “Deixo o perdão descansar sobre todas as coisas, pois assim o perdão me será dado.” ( Lição 342, Livro de exercícios, pagina 508). Ou como também postula o curso, “...se-elevar por cima do campo de batalha”.
É por isso da importância de nos mantermos no observador, sem julgamento nem interpretações sobre o que se percebe, pois essas duas ações, o juízo e a interpretação, estão fundamentados no passado, são funcionais ao sistema de crenças daquele que criou a cena, e nos colocam a um passo da vitimização, embaixo do mundo que percebo, dando ainda mais entidade e realidade.
A sombra é só isso, SOMBRA. Só precisa ser observada como o que é: dados de um sistema de pensamento demente, usado pelo ego para criar separação e culpa. Uma vez identificados os pensamentos condicionados e limitantes que projeto no mundo posso começar a me deixar de identificar com eles, e internalizar pensamentos e crenças novas que neutralizem aqueles que não colaboram com nosso presente.
Às vezes escuto de pessoas que tem praticado Renascimento coisas como: “é muito doloroso”, “não consigo lograr respirar”, “gostei muito, mas não vou fazer mais na minha vida”, “tive muito medo e me senti muito só durante a experiência”, “foi tão intenso que acho que não vou dar conta outra vez”... entre outras coisas.
Quase todas essas opiniões estão formadas através do julgamento e interpretação, e responsabilizando á pratica ou ao facilitador, quando basicamente a respiração nos revela o que está no nosso sistema de pensamento, e esse é o nosso material de trabalho, o que nosso ser nos mostrou e isso é o que temos a responsabilidade de trabalhar. Não se trata de conseguir nada. E está além do próprio gosto e conforto pessoal, condicionado. Se trata de nos entregar ao processo para ser transformados.
A respiração é um aliado no sentido que se ficamos conectados a essa energia que estamos tomando, deixamos de nos identificar com o que propõe nossa pequena mente limitada e assim podemos dar um pulo na nossa consciência.
O trabalho ordenado e sistemático com as nossas crenças nos possibilita ter uma mirada objetiva da própria historia passada, para assim ver por cima esses denominadores comuns que formam a nossa trama mental invisível.
Obviamente é um processo que demanda vontade de mudar, disciplina, paciência e confiança. Não acontece de um dia para outro e não é um fim, mas sim um começo.
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